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Sunday, January 20, 2008

 

Nós, os subversivos


A massa iletrada ao mesmo tempo inveja e despreza os leitores. Despreza-os porque eles perseguem a sabedoria, e isso a irrita. E os despreza porque os considera "diferentes"

Algumas pessoas estão sentadas nos bancos da estação ferroviária central de Munique, na Alemanha. No chão, malas, sacolas e pacotes. A legenda da foto divulgada por uma agência de notícias internacional informa que elas aguardam a volta dos trens depois de uma greve dos funcionários das ferrovias nacionais.

Sou bom observador. Minha profissão exige, e eu fui treinado para isso. Deparei com esta foto em um jornal há mais de dois meses, e ainda a lembro com nitidez por causa de um detalhe que teria passado em branco à maioria: das oito pessoas na foto, seis estavam lendo à espera dos trens. Quatro liam livros, duas liam revistas. A sétima era uma mulher, que amamentava seu bebê, a oitava pessoinha da foto.

Dias depois, outra foto no jornal atraiu meu olhar de leitor contumaz. A notícia era sobre um incêndio florestal que se alastrou, tocado pelo vento forte, e destruiu centenas de casas num enclave da elite norte-americana na Califórnia. Um rapaz, uniformizado e com o rosto enegrecido pela fuligem, aparecia deitado em um caminhão de bombeiro.

Decorei a legenda: "O bombeiro Ian Duewell descansa antes de voltar a combater o fogo em Malibu". O que a legenda não disse foi que Ian descansava lendo um livro.

Cenas assim não são incomuns no lado de cima do Equador. Mas raras no lado de baixo, e quase impossíveis na "pátria amada".

Os leitores da gare de Munique e o jovem bombeiro californiano provocariam certo espanto por aqui, onde ler em público "não pega bem". Como Alberto Manguel anotou no seu Uma História da Leitura, "em quase toda parte a comunidade dos leitores tem uma reputação ambígua".

A massa iletrada ao mesmo tempo inveja e despreza os leitores. Despreza-os porque eles perseguem a sabedoria, e isso a irrita. E os despreza porque os considera "diferentes", e isso a amedronta e provoca sua hostilidade.

Nos fascinantes anos 1920, em Paris, o escritor F. Scott Fitzgerald, certa feita, perguntou ao seu amigo Hemingway por que os ricos eram diferentes deles. "Porque eles têm mais dinheiro", respondeu o autor de Adeus às Armas.

Por que os leitores são diferentes? Porque eles sabem mais, têm horizontes mais amplos, são mais exigentes consigo e com os outros, cultivam suas individualidades, e se recusam a ser apenas "iguais".

Como a multidão sem rosto, os governos totalitários, e também os governos com vocação autoritária, à direita e à esquerda (se é que isso ainda significa alguma coisa), temem os leitores. Nos regimes ditatoriais, todo leitor é considerado um potencial subversivo. Afinal, homens e mulheres livres, os leitores pensam, julgam, formam opinião. E às vezes até agem, e reagem.

Fahrenheit 451, o conto de Ray Bradbury que François Truffaut transformou em um instigante filme, em 1966, mostra o que pode acontecer com uma sociedade onde os livros são proibidos e a leitura é transgressão.

Os cidadãos que liam na estação de Munique e o bombeiro americano destoariam da manada em certo país tropical que se diz abençoado por Deus, que não tuge nem muge, e se deixa explorar e roubar com bovina platitude por governos e políticos de baixa extração.

Se você conseguiu chegar até aqui, ao final deste palavrório motivado por duas fotos de jornal, parabéns. Você é um subversivo. Você não é um "igual", você é um leitor.

Texto escrito por Mário Pereira, retirado do caderno DONNA DC de hoje.

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Comments:
pra que usar fonte tão grande?
 
Só posso dizer que deu a louca no blog.
 
A fonte grande é pra chamar a atenção, por que é um texto bom para se ler.

Bah, eu sou um leitor, que emoção.
 
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